domingo, 10 de maio de 2009

Comparação entre a Web 1.0 e a 2.0: cultura participativa

Manuel Castells considera que Tim Berners-Lee tenha sido o responsável pela transformação da comunicação através dos computadores em realidade, pois foi ele que implementou o software que permitia obter e acrescentar informação a qualquer computador conectado na Internet. Esse sistema, portanto, foi chamado de world wide web.

Ainda segundo o autor, a Internet se inspira em três princípios de arquitetura de comunicação: estrutura de rede descentralizada, poder computacional distribuído através das redes e redundância de funções na rede para diminuir o risco de falhas na conexão. A estrutura de rede descentralizada permite uma maior flexibilidade nas relações através da Internet. Desta forma, a capacidade de adaptação e de mutação ganham possibilidades a cada nova idéia surgida.

O poder computacional distribuído através das redes significa a ausência de um centro de comando. Como a Internet não possui uma ordem de processos para o usuário, este pode se conectar a sites, portais e blogs que lhe forem mais agradáveis. Até o e-mail, uma das ferramentas mais básicas, dá esta liberdade ao usuário. Ele pode ter inúmeras variáveis à sua disposição: interface, tamanho da caixa postal, design, rapidez e prestígio do domínio. Juntamente com esse poder, a redundância de funções na rede ajuda a desenvolver uma maior autonomia nas suas mediações.

Diferentemente do rádio e da televisão, meios que impõem sua programação ao público, a Internet permite que cada pessoa crie o seu próprio comportamento, visite os melhores sites em sua opinião e tenha total liberdade de conexão. O mais importante é que, na Internet, o usuário ganha a chance de participar ativamente do processo comunicacional.

Com base nos três pontos citados acima, a comunicação na Internet acontece de forma simultânea e em todos os lugares. O correio e o telefone, por exemplo, estariam em um esquema de rede, ponto a ponto, um para um. Por esta análise, a web funcionaria sem um centro. Os pontos, neste caso seriam os usuários, que não precisam passar por um centro. Estes pontos podem se conectar diretamente.

Já para o rádio e a televisão funcionariam no que Pierre Lévy classifica como esquema estrela, ou seja, de um ponto para o todo. Tal esquema gera uma audiência passiva e, sobretudo, com pessoas isoladas umas das outras, pois o público se conecta diretamente com um centro, neste caso um meio de comunicação como a televisão, mas sem a possibilidade de novas interações, pois a audiência não está conectada entre si, somente com o centro.

Desta forma, o ciberespaço pode combinar as vantagens dos dois sistemas, pois permite, ao mesmo tempo, a reciprocidade na comunicação e a partilha de um contexto, denominado por Lévy de comunicação de ‘todos para todos’.

Com base nos pensamentos destes dois autores, temos um panorama do que era a web 1.0. Pessoas se conectando e trocando informações em grande velocidade, sem intermediação de uma televisão ou rádio, por exemplo, com mais liberdade e garantia que sua mensagem chegaria sem ruídos ao destinatário. Este cenário já era uma grande mudança para as pessoas.

 A comunicação instantânea e a possibilidade de conversar com qualquer pessoa em qualquer canto do mundo foram o que mais atraíram as pessoas para a Web 1.0. Foram criados os primeiros fóruns de discussão, BBS, ICQ e outras possibilidades de colocar indivíduos em contatos.

Com sua chegada, a Web 2.0 coloca uma outra questão: o que acontece quando estas pessoas começam a gerar conteúdo? Se os fãs do Homem-Aranha, por exemplo, discutiam as aventuras do herói em um fórum, agora eles poderiam escrever um artigo sobre ele no Wikipedia, com freqüentes atualizações, ajudando o leigo a conhecer mais sobre o personagem.

Diferentemente do que Espig escreveu no seu blog, que, segundo especialistas em TI a Web 1.0 era estática e a 2.0, dinâmica, a primeira versão da Web já era bem dinâmica. Sim, existiam limites técnicos, como a qualidade das conexões e os processadores lentos comparados com os padrões atuais, mesmo assim, era possível trocar e-mails, ler fóruns e conversar com algum indiano no ICQ. Tudo ao mesmo tempo.

O que se vê na Web 2.0 é uma mudança no ritmo. A Web já era dinâmica. Apenas ficou mais rápida e com novas possibilidades de comunicação. Essa revolução das redes sociais e mídias geradas pelos consumidores fazem com que a Internet se consolide como um ambiente em que as pessoas oferecem mais informações às outras, o volume de tráfego aumenta também e teremos um meio de comunicação em expansão crescente e constante.

 A Internet colocou esta nova cultura participativa no radar dos meios de comunicação. Henry Jenkins afirma que o fã é sempre o primeiro público a se adaptar às novas tecnologias, logo, a parcela mais ativa da audiência. Este, portanto, é o pilar da Web 2.0, aquela em que os fãs e outros consumidores são convidados a participar ativamente da circulação, criação e produção de bens culturais.

Por isso, a web ganhou respeito e prestigio diante de duas instituições muito poderosas, responsáveis pelas principais tendências de comportamento:o publico e os meios tradicionais de comunicação. Cada um deles percebeu que a Internet pode trazer vantagens.

Basta olha para o ramo musical. O MySpace, site em que bandas colocam suas músicas para qualquer pessoa ouvir sem pagar nada, já é um sucesso e ajudou a criar novos astros, tanto no Brasil (Malu Magalhães) e no Reino Unido (Arctic Monkeys e Lily Allen). Com isso, mais e mais pessoas buscam a Internet como a forma de divulgar seus trabalhos.

As vendas totais de discos caíram 14%, para 428,4 milhões de dólares em 2008, de acordo com números do varejo coletados pela empresa de pesquisa Nielsen SoundScan. Com a queda de 15% em 2007, o número representa mais uma baixa recorde desde que a empresa começou a monitorar as vendas em 1991. As vendas despencaram 45 por cento desde a maior alta do setor, em 2000, de 785,1 milhões de unidades vendidas.

Ao mesmo tempo, os downloads digitais em lojas online como o iTunes, da Apple, passaram a ter maior importância para o setor.  A venda de faixas de música subiu 27 por cento, para um recorde de 1,07 bilhão de unidades.

A indústria fonográfica finalmente conseguiu encontrar uma maneira de se relacionar com a Internet. Mais importante do que isso: as pessoas também. E de uma maneira muito mais proveitosa para a aldeia global. 

Um comentário:

  1. Oi Gustavo,
    O teu post está muito bem escrito e fundamentado. Apenas poderia ter ficado um pouco mais dentro do espirito Web. Você poderia ter inserido alguns links para páginas que você menciona e que contém informação que poderia interessar muito a leitores teus, que desejarem se aprofundar nos temas que você tocou. Fiquei curioso para conhecer melhor as idéias de Espig, cujo blog você mencionou. Num texto web os links são uma referência tão relevante quanto os pés de página num livro impresso.
    Um abraço e aguardo os teus próximos posts.
    Castilho

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